segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Barroco no Brasil

1ªparte

I – Visão Geral:

Influências e Contextualização

O Barroco nasceu na Itália, mas se difundiu por toda a Europa durante o séc. XVI, ele apresentou diferentes características dependendo da região ou país. Foi um movimento artístico e literário. Tendo influência renascentista e teocêntrica medieval simultaneamente. Isto quer dizer o Barroco foi influenciado por muitas ideias, dentre elas ressaltamos as que valorizam o homem contrastando com as que valorizam Deus.

Nesse período, a Europa enfrentava problemas sociais, com muitas guerras (Ex.: Guerra dos Trinta Anos) e estava sob o regime Absolutista.

O Barroco está intimamente ligado a Contra-Reforma. A Contra-Reforma foi uma resposta tardia da Igreja Católica às Reformas Protestantes (final da Idade Média, sécs. XIV e XV). Onde a Igreja Católica percebeu que estava perdendo poder e na tentativa de recuperar fiéis, reforçou antigos costumes como: aumentou a lista de livros proibidos, ìndex, reforçou o celibato dos padres.

II – Principais características:

a) O dualismo, jogo de contrastes: também conhecida como culto do contraste essa característica se baseia na contraposição da matéria e do espírito, do bem e do mal, Deus e o Diabo, do céu e da terra, da pureza e do pecado, da alegria e da tristeza e da vida e da morte.

b) A efemeridade, a fugacidade da vida: O homem barroco sabe que a vida terrena não é eterna, ela é passageira, efêmera. Por causa disso, ele pensa em todos os momentos na salvação espiritual. Porém, o homem acaba entrando em contradição, já que ele deseja aproveitar a vida antes que ela acabe e isso não é possível sem o pecado. Pecando, o homem não se salva. Devido a isso, o homem do final do séc. XVI é muito contraditório.

c) Rebuscamento lingüístico – metáfora, antítese, paradoxo, hipérbole, hipérbato: é a linguagem trabalhada, cheia de figuras de linguagem e recursos imagéticos. Isso foi uma forma de transferir para a literatura todo o “glamour” da pintura e da escultura. As figuras mais utilizadas foram a metáfora, o paradoxo, a hipérbole e com mais ênfase na antítese e no hipérbato. A antítese aproxima ideias opostas o que é muito comum no Barroco. O hipérbato é a inversão das orações que era utilizado para rebuscar os textos. Um exemplo de hipérbato é o Hino Nacional Brasileiro.

Pessimismo: o pessimismo em termos literários é uma das características do Barroco ou Seissentismo, que se da no período do renascimento na Europa em diversos textos, em meio as reformas religiosas e contra reforma.

Devido a esse conflito da igreja, o homem também se vê envolvido. Há uma aparente depreciação da vida terrena, retratada com tristeza, em contraste com uma extrema exaltação da vida celestial.

III -
O cultismo – Também conhecido como Gongorismo, o cultismo consiste na hipertrofia da dimensão sensorial, ou seja, a utilização de sons e imagens na obra literária . O autor e espanhol D. Luis de Góngora , o maior representante desse movimento, recorre exageradamente de metáforas, sinestesias ( confusão de sentidos : cores quentes, vozes ásperas ), aliterações, hipérbatos, antíteses e entre outras . Essa variedade de sentidos acaba muitas vezes obscurecendo seu entendimento .

A uma crueldade formosa

Jeronimo Baía

A minha bela ingrata
Cabelo de ouro tem, fronte de prata,
De bronze o coração, de aço o peito;
São os olhos luzentes,
Por quem choro e suspiro,
Desfeito em cinza, em lágrimas desfeito,
Celestial safiro;
Os beiços são rubis, perlas os dentes;
A lustrosa garganta
De mármore polido;
A mão de jaspe, de alabastro a planta.
Que muito, pois, Cupido,
Que tenha tal rigor tanta lindeza,
As feições milagrosas,
Para igualar desdéns a formosuras,
De preciosos metais, pedras preciosas,
E de duros metais, de pedras duras?

O conceptismo – Também conhecido como Quevedismo, ele consiste na hipertrofia da dimensão conceitual utilizando da razão invés do sentido, usando jogos intelectuais de lógicas e paradoxos. Seu principal representante foi o espanhol D. Francisco Quevedo.

A uma ausência

Antonio Barbosa Barcelar

Sinto-me sem sentir, todo abrasado
no rigoroso fogo que me alenta;
o mal, que me consome, me sustenta;
o bem, que me entretém, me dá cuidado;

ando sem me mover, falo calado;
o que mais perto vejo se me ausenta
e o que estou sem ver mais me atormenta;
alegro-me de ver-me atormentado;

choro no mesmo ponto em que me rio;
no mor risco me anima a confiança;
do que menos se espera estou mais certo;

mas se, de confiado, desconfio,
é porque, entre os receios da mudança,
ando perdido em mim como em deserto.

IV – Principais Autores :

a) Gregorio de Matos - Nascido em Salvador no dia 23 de dezembro de 1636 pode ser considerado o iniciador da literatura brasileira por alguns historiadores . Ele recebeu influencias tanto do cultismo quanto do conceptismo . Sua obra possuia uma contraditoria diversidades de temas envolvendo temas religiosos , lirica amorosa, poesia satirica e poesia burlesca . Podemos distacar :

Poesia Sacra – Conhecida pela sua religiosidade abrange circunstancias de festas de santos a reflexisoes morais .

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vós tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto um pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, e já cobrada
Gloria tal, e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História:
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória


Poesia Lírica – Também conhecida como Lírica Amorosa abrange um grande leque temático desde o amor idealizado :

Quem a primeira vez chegou a ver-vos,
Nise, e logo se pôs a contemplar-vos,
Bem merece morrer por conversar-vos
E não poder viver sem merecer-vos.

Ao amor rejeitado :

Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno, e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento,
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.

Podendo usar as vezes o realismo irônico na busca para definir o amor :

Isto, que o Amor se chama,
este, que vidas enterra,
este, que alvedrios prostra,
este, que em palácios entra:
[.......................................]
este, que o ouro despreza,
faz liberal o avarento,
é assunto dos poetas:
[.......................................]
Arre lá com tal amor!
isto é amor? é quimera,
que faz de um homem prudente
converter-se logo em besta

Poesia Satírica – incluía a todos em sua lira maldizente . Utilizando de zombaria engraçada e maldosa. Como utilizou no governador Câmara Coutinho assim retratado :

“Nariz de embono
com tal sacada,
que entra na escada
duas horas primeiro
que seu dono.


Porem sua maior satírica foi a de criticar o cunho geral dos vícios da sociedade . Criando seu principal personagem a cidade da Bahia :

Senhora Dona Bahia,
nobre e opulenta cidade,
madrasta dos naturais,
e dos estrangeiros madre.

Também podendo ser descrita como :

Terra que não aparece
neste mapa universal
com outra; ou são ruins todas,
ou ela somente é má.

Mas nem sempre existe tanto rancor em seus sonetos . No famoso triste Bahia utilizasse de um lamento invés das zombarias satíricas :

Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mim abundante.

Creditos Paula, Rafaela e Danielle

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